quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

A minha casinha




A casinha que me viu nascer e crescer.
Foi construída há muitos anos, mais precisamente no ano de MDCCCLVI. Tem a área aproximada de 100m2 e é constituída por rés-do-chão e 1º andar . Do rés-do-chão fazem parte a despensa, a adega, a tulha do grão e a cozinha. No 1º andar, o sobrado de madeira está dividido em três quartos grandes, passando de uns para outros, não tem quarto de banho, pois nessa altura não se pensava em tal, e também não havia água canalizada, era preciso ir buscá-la à Fontanica.

Mas continuando a descrever a minha casa, ela é grande de verdade, tem vários anexos, como forno para cozer pão, que ainda uso algumas vezes; também serve este compartimento para curar o fumeiro e os presuntos; tem um vasto curral onde se guardava o carro das vacas e hoje o tractor, o pequeno estábulo que albergava as 6 vacas, a burra e a corteilha dos porcos que então se criavam; ainda mais o palheiro para guardar todos os mantimentos, como a palha, feno e lentilhas.
É a minha primeira casinha de que guardo muitas recordações. Apetece-me vê-la sempre assim, pois é assim a casa dos lavradores, tinha espaço para tudo, ao contrário das dos dias de hoje, que são só para viver as pessoas.
São mais confortáveis, mais limpas, mais divididas, mas ao mesmo tempo mais cansativas, porque é preciso estar sempre a limpar o pó dos móveis, enquanto na outra se varria com um vassouro de escobas e já estava!

Mas é assim a evolução da sociedade.
Maria Inácia Esteves

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

MORDOMIA DE SÃO PEDRO E DE NOSSO SENHOR


Sino pequeno no campanário da Igreja matriz
Lâmpada do Santíssimo, com o Altar-mor em pano de fundo


São Pedro é o padroeiro de São Pedro da Silva.
Os mordomos do altar-mor são dois casais. Um casal é de São Pedro e o outro é de Nosso Senhor. Os mordomos trabalham em conjunto.
O mordomo de São Pedro tem de tocar à missa, ajudar o padre na missa e dar as opas para as procissões, para levarem as lanternas e o palio, quando sai. A mordoma, junto com a mordoma de Nosso Senhor, tem de limpar a igreja, arranjar o altar e preparar as coisas para a missa: cálice, jarra com água e toalha.
A mordoma de Nosso Senhor tem de tocar às Trindades. Antigamente tocava-se às Trindades às seis e trinta da manhã, o povo dizia que era hora de levantar; tocavam à tarde por volta das cinco da tarde, era hora de cear e, ás nove, tocava-se às Almas diziam que era hora de deitar. Agora já só se toca uma vez, por volta das cinco, na hora de Inverno e às nove na hora de Verão.
A mordoma de Nosso Senhor tem de tratar da lâmpada. Antigamente essa lâmpada era com azeite e tinha uma flor que se apanha no monte. A mordoma tinha que ter o cuidado de a lâmpada não se apagar, tinha que ir a vê-la algumas vezes por dia. Caso alguém fosse e a visse apagada, tocavam os sinos para a mordoma ir lá. A lâmpada, por semana, gastava um litro de azeite, ao fim do ano gastavam-se 52 litros de azeite.
Esse azeite, ou se comprava ou quem tivesse devoção oferecia o que quisesse. A lâmpada não podia estar apagada pois diziam que Nosso Senhor estava às escuras.
Agora a lâmpada foi substituída por uma lâmpada eléctrica: é mais prática, nunca se está com a preocupação de se apagar.
O mordomo de Nosso Senhor nas procissões tem de levar a cruz.
Elisabete Esteves

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Um dia de sementeira



Pombal nos Manadeiros
Caniça numa terra do Cascalho

A sementeira é feita em Setembro e Outubro, mas para poder fazer a sementeira é preciso lavrar as terras com a charrua em Março, para que a terra coza e fique em repouso até Setembro.
Antes de semear a terra é preciso “vimá-la”*, para deixar a terra fofa ou desfeita.
Depois, calculamos a área da terra e calculamos o adubo e a semente que temos que lhe deitar.
Aqui, na nossa terra, calculamos a areados terrenos em hectares ou em jeiras de arada.
Cada hectare tem 3,3 jeiras de arada, mais ou menos.
A jeira de arada era calculada pelos antigos por um dia de trabalho a lavrar com as vacas, um dia normal. Por exemplo, 10 hectares são 33 jeiras de arada.
Cada jeira de arada leva 3 alqueires de trigo, mas se for de aveia é preciso deitar 4 alqueires, se não fica rala ou pouco espessa.
Cada hectare leva 10 alqueires de trigo, mais ou menos; cada alqueire de trigo pesa 12 kg.
Feitos os cálculos do adubo e da semente a aplicar, fazemos a aplicação (sementeira) no terreno; feita a aplicação, é lavrada novamente com os escarificadores (arados), para enterrar o cereal e o adubo.
Depois, em Fevereiro, deita-se o herbicida ou o pesticida para o trigo e a aveia; e deita-se também, no mês de Fevereiro o nitrato – o nitrato é uma matéria orgânica para produzir mais cereal.
Cada jeira de arada leva uma saca de adubo de 50 kg; um hectare leva 3 sacas e meia de adubo.
Para esta sementeira ser rentável, tem que render entre 15 e 17, como, por exemplo, um alqueire semeado tem que render (produzir) 15 a 17 alqueires.


*Vimar – lavrar com os escarificadores (arados) para deixar a terra mais fofa.




Celso Martins

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Dei-me bien an San Pedro


Tanque de la Resina
Canhiça i ciguonho al fondo de la Resina


(...)
Bin a bibir cun miu pai i cun mie mai para San Pedro de la Silba, que era la tierra de miu pai.
Ls purmeiros tiempos senti la falta d’als mius amigos. An Fuonte Aldé jugábamos al fito i a las piedras chamában-le «Cuncas» i an San Pedro «Fiteiras», alhi jugaba-se muito al speto, eiqui a la bola.
Mas dei-me bien. Lhougo ampecei a jogar a la bola: al campo era na Resina i parecie que jugábamos nun cabeço, quando jugábamos al para baixo i nun le acertábamos a la baliza, teniemos que ir por la bola a mais de 300 metros, a las bezes n’al Ambierno, cun todo cheno de auga.
Tamien ampecei a ir cun ls outros a las cereijas i a las ubas, muita beç nó por tenermos fame, mas por ua lhambisquice. Dei-me muito bien cun la jolda, que inda hoije son ls melhores amigos que tengo.

(...)


Luís Silva

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

O linho (I)


Peça de linho
Roca, fuso, manelo de linho e cartapaço


Na nossa aldeia, cultivou-se o linho até finais da década de 60, tendo então deixado de se cultivar, talvez porque o seu cultivo exigisse muita dureza e trabalho, bem simbolizado na expressão: “tormentos de linho”.
Há ainda habitantes que tem na memória esses duros trabalhos, o linho era cultivado essencialmente para consumo familiar envolvendo, no seu cultivo e manufacturação, praticamente todo o agregado familiar.
Os terrenos tinham que ser de regadio e o clima ameno, o nosso clima aqui é demasiado rigoroso, muito frio de inverno e quente e seco no verão, por isso cultivava-se o linho essencialmente na “Chaneira”, zona de hortas da aldeia, com um microclima ameno e perto da ribeira.
Aqui cultivavam-se dois tipos de linho: o galego e o mourisco.
Nas zonas húmidas cultivava-se o linho galego: semeava-se na primavera, no mês de Abril, para colher em Junho, precisava de estar menos tempo na terra, mas em terras mais férteis e húmidas, era um linho de melhor qualidade, mais fino. Também se produzia paralelamente a variedade Mourisca, semeada no Outono e colhida no Verão, embora este constituísse um produto de menor qualidade.
Para o cultivo do linho era necessário percorrer várias etapas, desde a sementeira, rega, arranca, ripar, demolhar, secar (soalheiro), malhar, espadelar, restelar, assedar, carpear, dobar, fiar, emborrar, ensarilhar, cozer, corar, urdir, canelar, tecer e corar, até chegar ao tecido fino e macio. (...)
Leonor Esteves Fidalgo

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

A Escola (2)


Escola de São Pedro -anos 60
Mapa: Fonte Ladrão - São Pedro

Tenho 32 anos e, no meu tempo, quando andava na escola na minha aldeia, éramos muitos alunos. Éramos de S. Pedro e Fonte Ladrão.
Fonte Ladrão é uma aldeia que fica, mais ou menos, a 3 km de S. Pedro. Os alunos que vinham de Fonte Ladrão tinham que vir a pé, pois não havia transporte. No Inverno chovia e fazia frio mas eles vinham na mesma. Demoravam cerca de meia hora, ou mais, a chegar à escola, era muito complicado para eles. Traziam o almoço e o lanche, por aqui ficavam todo o dia e só regressavam depois das aulas, no Inverno, muitas vezes, quase de noite.
Éramos muitos alunos e tínhamos duas professoras: uma professora dava à 1ª e à 2ª classe a outra dava à 3ª e à 4º classe. Enchíamos as duas salas e isso era bom! (...)


Elisabete Esteves

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

As minhas vacas




Estas são as minhas vacas no lameiro: são vinte e quatro vacas, um boi e o meu cão deitado lá no meio delas.
Em primeiro lugar, logo de manhã cedo, assim que me levanto, tenho que ir dar-lhes de comer, dar-lhes aveia, e deitar os vitelos a mamar.
Depois dali a pouco tenho que ir a deitá-las para a pastagem, para o lameiro, e depois tenho que ir com elas, porque se não, elas não param.
Depois também tenho que semear ervas para elas pastarem, por exemplo, "beia", “ferranha”, “azebem”, etc.
É preciso semear aveia – que será segada com a debulhadora, para deixar para seco -, para elas comeram durante todo o ano. Isso dá muito trabalho: é preciso lavrar, semear, segar, juntar, enfardar, fazer os rolos e ir metê-los no estábulo. Depois é preciso deixar alguma aveia para seco, para semente para o ano seguinte. A debulhadora já fica muito cara e, isto, o trabalho da agricultura é muito cansativo e não dá nada de lucro.
As pessoas, se forem a deitar contas aos gastos que têm, não dá para nada, não dá resultado nenhum. Depois, os adubos também estão muito caros e se uma pessoa não deitar adubo às terras não dão nada e uma pessoa vai deitar adubos e a comprar as sementes fica praticamente sem nada.




Fátima Vicente