quinta-feira, 4 de junho de 2009

Luís Silva


You anscrebi-me porque l 9º anho inda me puode benir a fazer falta, agora fai falta para todo, i scolhi trabalhar an Mirandés para tirar ua ateima: para ber se afinal la lhéngua ye oufecial ou nó, se solo andábamos eiqui a brincar a las lhénguas. Inda çcunfiei que nun mos íban a outerizar, mas cumo bie ls formadores tan animados i que si tenien que mos outerizar, you tamien me animei. Inda daprendi muita cousa ne ls cumputadores i tamien para screbir an mirandês que nun ye assi tan depriessa cumo un pensa. You siempre falei Mirandés mas nunca le habie screbido; inda dou muito erro mas yá me bos zanrascando.
Nun fui fabor niun que mos fazírun: l goberno diç que las Nuobas Ouportunidades ye para pagar la díbeda a quein nun tuve ouportunidade de studar ne l sou tiempo. Anton aporbéitan i pagan-le tamien la díbeda al Mirandés, por tenéren ampuntado de la scuola i de ls sítios importantes durante tanto tiempo.
Ouxalá que este eisemplo sirba para melhorar algo la maneira cumo l Mirandés ye bisto por quien manda!


Luís Silva

Albertina de São Pedro


You scolhi fazer l Porcesso an Mirandés por bias de ser la mie lhéngua mai, la purmeira que daprendi. Toda la bida tengo andado anquemodada cul grabe, a las bezes peç que até me atafanha. Toda la bida tengo bibido agoniada por se star a perder la nuossa lhéngua.
Na scuola, quando you andube, inda tube muita deficuldade, que se me misturában las dues; mas tamien inda daba algun jeito, por eisemplo, chapéu i machada sabiemos que se screbien cun “ch”, cumo l deziemos.
Nunca cuidei inda benir a tener “scuola” an Mirandés. Cun l Mirandés las cousas peç que sálen melhor; an pertués las palabras ténen que ser mais rebuscadas; an Mirandés peç que até la giente stá a brincar.
Acho muito justo que mos déian esta Ouportunidade; i nó solo justo, mas tamien me dá muita alegrie i muita proua; yá ten benido giente a mie casa, alguns bien doutores, que quier oubir l mirandês i sabe dá-le balor!


Albertina São Pedro

RVCC an lhéngua mirandesa




Ls que le bótan más fé a isto yá han de tener arreparado que de la quemandita que andaba a fazer l porcesso, hai dous – Albertina i Luís - que inda nun fazírun Júri Final de Certeficaçon.
Acuntece que l sou porcesso fui todo zambolbido an lhéngua mirandesa, l sou portefólio stá todo screbido an Mirandés i l sou Júri de Certeficaçon tamien bai a ser an mirandés, de maneira que se puode dezir que ye l purmeiro certeficado/diploma passado pul sistema de ansino pertués tenendo cumo sustentaçon solo la lhéngua mirandesa, ou, dezido duma maneira más simples, Albertina i Luís fazírun l nono anho an Mirandés.I peç me que nun será abuso dezir que, para alhá de la certeficaçon de las pessonas, tamien ye l mirandés quien bai a ser certeficado, cumo lhéngua de tanto balor cumo las outras, seia pa l que fur, seia para cerrar l portielho, seia para ir a scuola.Fui un porcesso lhargo, hai más de un anho que ándan nisto (quando hai quien faga l porcesso an 2/3 meses) i hai que dar ls parabienes a quien ls merece: a la ANQ (Agéncia Nacional para la Qualificaçon, que ye la chefa de todo l que respeita a las Nuobas Ouportunidades), que tubo la coraige de outerizar este porcesso; al Anstituto Piaget, por haber apostado ne l mirandés i saber andar delantre de ls outros ne l que respeita a zambolbimiento i ansino; i, an special, a Albertina i a Luís, por béren las sues cumpeténcias certeficadas i por se habéren astrebido a rumper l camino por adonde inda naide habie andado. Parabienes!

terça-feira, 26 de maio de 2009

Celso Martins


Fabuloso! O celso optou por não falar de festas e tradições - até para que não se pense que São Pedro é só fados e boa vida! - e decidiu apresentar a exploração agrícola que dirige, fazendo incidir a atenção no processo burocrático necessário para a boa gestão.

Apesar de ter abandonado a escola a meio do 9º ano, pareceu que o Celso toda a vida "deu aulas", tamanho o à-vontade com que desenvolveu a sua apresentação; todos puderam admirar a dissertação de "gestão agrícola" do Celso que lhe permitiu ser certificado com o nível B3 - 9º ano.

Iria de Fátima Vicente


Falou dos meses restantes: Setembro – Novembro e das celebrações festivas que nessa data têm lugar, aliadas a outras manifestações culturais da aldeia, como sejam, por exemplo, os “paga vinhos” e “os toques dos sinos”, forma de comunicação tão presente em todas as aldeias do planalto.
Estribada na sua simplicidade e franquezas naturais, desenvolveu uma apresentação estupenda que lhe permitiu ser certificada com o nível B3 – 9º ano.

Maria Inácia Pires


Coube-lhe falar da temporada seguinte, as festas que acontecem entre Junho e Agosto: São Pedro e Santa Bárbara.
Evidenciou grande quantidade de competências na descrição das actividades dos mordomos da Festa de Santa Bárbara, Festa do verão, cargo que lhe cabe ocupar no ano que corre.
Sempre muito sorridente, usou a sua simpatia natural para fazer uma apresentação extraordinária, que deliciou os membros do júri e todos os presentes.
A Maria Inácia tinha o 6º ano obtido em adulta, e, mais do que justamente, aumentou as suas habilitações dado que viu certificadas as suas competências com o nível B3 – 9º ano.

Elisabete Esteves


Apresentou as festas do ciclo seguinte, entre Fevereiro e Maio: o Carnaval e a festa de Nossa Senhora do Rosário ou de São Marcos, dando especial atenção à descrição do deslumbrante santuário e da sua igreja. De caminho falou também das minas de Santo Adrião e do poço da “Filadeira” .
A Elisabete tinha deixado de estudar no 7º ano para se casar, mas percebeu-se bem que poderia ter ido muito mais longe. Poderá ainda ir, assim ela o deseje!
Apesar de ser ainda jovem, demonstrou um elevado grau de maturidade e fez uma apresentação fantástica que encantou os presentes.
Foi certificada com o nível B3 – 9º ano.

Leonor Esteves Fidalgo


Apresentou um trabalho sobre as festas de São Pedro que decorrem entre Dezembro e Janeiro, altura rica em manifestações tradicionais. Falou da Festa do “Bielho” e da “Galdrapa” ou Festa de Santa Luzia, das tradições do Natal e da Festa dos Reis, explicando todo o processo de preparação dos Roscos que compõem o Ramo do dia de Reis.
Todos ficaram impressionados quando disse que nunca tinha frequentado regularmente a escola (nasceu na Quinta dos Picadeiros), que tinha aprendido a ler e a escrever sozinha e, não obstante, conseguiu obter o 6º ano num curso que decorreu também em São Pedro nos anos 90 e hoje pode celebrar a palavra.
Fez uma apresentação fantástica e demonstrou amplamente a sua intervenção social no âmbito da cidadania.
Foi certificada com o nível B3 – 9º ano.

Ainda o Júri de Certificação


Tal como tínhamos prometido – e ainda que tenhamos demorado algum tempo, por diversidade de razões – cá estamos para vos continuar a contar dos nossos trabalhos.
O Júri de Certificação de alguns de nós decorreu no dia 16 e Março, no Instituto Piaget, em Macedo de Cavaleiros. O Júri de Certificação é o momento que finaliza o Processo RVC e no qual certificamos (como o nome indica) as nossas competências.
Consiste em fazer uma exposição oral sobre um assunto – por nós escolhido – que tenha a ver com o nosso trajecto de vida, e que será depois apreciada por um júri reunido para esse efeito.
Nós optamos por apresentar um trabalho de grupo – composto pelos vários trabalhos individuais de cada um de nós – sobre alguns aspectos das manifestações culturais de São Pedro da Silva, ligados ao ciclo dos trabalhos agrícolas.
Mas o nosso júri começou mesmo com a apresentação deste blogue, a cargo da Elisabete e do Celso, que brilhantemente explicaram como nasceu a ideia, quais são os objectivos para a sua concretização, explicaram como eram feitas as “postagens”, enfim, mostraram “os bastidores” do blogue. O Júri gostou muito e deu os parabéns pela ideia e pelo trabalho realizado.
Foi prometido que o blogue não acabaria quando acabasse o Processo RVC e se manteria para continuar a dar notícias de São Pedro.

quinta-feira, 19 de março de 2009

Juri de Certificação


Adultos que terminaram o processo, da esquerda para a direita: Maria Inácia Pires, Leonor Esteves, Celso Martins, Iria de Fátima Vicente e Elisabete Esteves


Juri de Certificação, da esquerda para a direita: Dr.Carlos Silvestre, Coordenador CNO; Dr. Domingos Leite, Avaliador Externo; Marina Santos, Profissional RVC, Alfredo Cameirao, Formador LC e CE (falta na imagem a Isabel Vilares, formadora de TIC e MV, que fez a foto)
Em pé, Adriano Valadar, Formador de CLC



No passado dia 16 de Março, 5 dos autores deste blogue finalizaram o desenvolvimento do seu processo RVCC, com a realização do Juri de Certificação de Competências, no CNO do Campus Académico do Instituto Piaget, em Macedo de Cavaleiros.
Foram apresentados e defendidos trabalhos de qualidade superior, dos quais São Pedro da Silva e a Terra de Miranda se podem orgulhar.
O tema dos vários trabalhos - à excepção do Celso, que falou dos seus animais - foi a própria aldeia de São Pedro da Silva e as celebrações que aqui decorrem durante o ano, como se explicará nos posts seguintes.
Fica o depoimento da Profissional de RVC que connosco trabalhou e que até "uas palabricas de Mirandés tubo que daprander"

“Trabalhar cun “ls garrotes” fui ua speriéncia deliciosa. Ber neilhes la proua de séren de tierras de Miranda.”
No júri de certificação, este orgulho esteve sempre estampado nos seus rostos. A forma como trouxeram a esta sessão os seus costumes e tradições, tão próprios daquelas terras, fez com que me apercebesse da riqueza infindável deste Processo, na construção dos nossos saberes. E se são eles que obtêm uma nova certificação, somos nós que saímos mais ricos de toda esta experiência, ao beber, devagarinho, todas as suas aprendizagens, todos os seus costumes, todo o seu carinho…
Marina Santos

quarta-feira, 4 de março de 2009

Março




Poço de la Filadeira (I i II)
Puonte de la Chaneira


Março, marçagano, manhana de Ambierno i tarde de Berano.

Março, ancanharço.

Março, tanto drumo cumo fago.

Março, mi prouista, pus pudera, canta alegre ua mocica, que se chama Primabera.


An março, dezie mie bó, eiguala la nuite c’al die.
Naqueilhes tiempos, chobie que Dius la daba, nun habie talbisones, nien rádio nien lhuç. Mas, oulhai, era ua alegrie: la giente, a las tardes, ajuntaba-se ne ls palheiros porque yá íban bazius de l Ambierno, las mulhieres más bielhas filában lhinho i lhana, las de meia eidade fazien na meia i nós, la garotada, saliemos de la scola i jugábamos a la pedrisca i al senhor barqueiro.
Apuis, mal l sol abrie ls uolhos, toc’a apanhar las nabiças yá frolidas, segar cargas de ferranha; parece que stou a ber las burras, c’las cargas: apuis de tanto chober, formában-se uns babuleiros, chamában-le las bielhas, po riba yá stában sequitas, la burra pisaba i, pumba!, eilhi quedaba anterrada – aquilho yá daba pa fazer las trobas ne l die de Antruido.
Ne l Antruido, naquel tiempo, era mi angraçado: se fazisse sol, alhá iba quaije to la giente a la slada pra quemer c’al butielho, ls pies ou l pito – mie bó siempre al guisaba esse die; caldo nun se quemie, se nó dolie la cabeça!
Mie bó tamien fazie uas fregidas de la massa de l pan – ai, que buonas éran! – inda me stan a saber!
A la tarde, las trobas. I apuis, beilarote, al toque dal rialejo. Tocaba las Trindades, ala, para casa, nun éramos coixos.
Buono, tengo que me calhar, se nó teniemos cumbersa pa l anho todo.

Albertina São Pedro

segunda-feira, 2 de março de 2009

A matança do porco




Matança do porco - Matar, chamuscar e abrir
Fotos de Celso Martins e Leonor Esteves


No dia da matança do porco, logo de manhã, por volta das 9 horas, reúnem-se os “matancieiros”. Primeiro matam o bicho (tomar o pequeno-almoço), ao fim do mata-bicho lá vão eles, de faca e corda na mão.
Um deles entra na loja e agarra o porco; os outros ajudam. Tiram o porco para a rua e deitam-no num banco. Um deles, o mais corajoso, espeta-lhe a faca, que vai direita ao coração: uns acertam outros não mas o porco morre.
Naquele momento, já está ali uma mulher com um tacho, a pegar no sangue que corre. De seguida, a mulher vai para casa, onde já está uma caldeira de água a ferver e coloca-se o sangue a cozer com loureiro e sal. Enquanto isso, os homens põem os porcos no chão, enchem-nos de palha e pegam-lhe fogo (chamuscam-nos) - isso é para queimar os pelos do porco.
De seguida, colocam os porcos num banco, para os rapar e lavar.
Enquanto fazem isso, chega o sangue já cozido e temperado com azeite e alho ou só com azeite para quem não gosta do alho. Come-se o sangue, acompanhado com bom vinho.
Depois do porco estar bem rapado e lavado, abrem-no. Quem perceba de abrir porcos, começa, então, e a primeira coisa a sair é a barbada, de seguida o unto e a seguir as tripas, que já estão as mulheres à espera para as preparar.
As tripas é preciso separá-las - as delgadas das gordas. A seguir das tripas sai a fressura e por fim os garrotes.
Depois disto, espetam-lhe a estaca no cu e fica de cabeça abaixo, até ao dia seguinte.
Os homens picam os garrotes e deitam-nos no pote, com azeite e cebola. Eles cozinham, guisam e assam, enquanto as mulheres lavam as tripas - "estezam" as tripas com umas forquetas.
No fim, vai-se almoçar, comer o que os homens fizeram de comer, assam-se as "moleijas", toda a gente come e bebe. É uma festa aquele dia!

Estezar- Tirar as tezes às tripas
Forquetas - varetas dos olmos ou “brime”.
Brime - vime

Elisabete Esteves

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

A minha casinha




A casinha que me viu nascer e crescer.
Foi construída há muitos anos, mais precisamente no ano de MDCCCLVI. Tem a área aproximada de 100m2 e é constituída por rés-do-chão e 1º andar . Do rés-do-chão fazem parte a despensa, a adega, a tulha do grão e a cozinha. No 1º andar, o sobrado de madeira está dividido em três quartos grandes, passando de uns para outros, não tem quarto de banho, pois nessa altura não se pensava em tal, e também não havia água canalizada, era preciso ir buscá-la à Fontanica.

Mas continuando a descrever a minha casa, ela é grande de verdade, tem vários anexos, como forno para cozer pão, que ainda uso algumas vezes; também serve este compartimento para curar o fumeiro e os presuntos; tem um vasto curral onde se guardava o carro das vacas e hoje o tractor, o pequeno estábulo que albergava as 6 vacas, a burra e a corteilha dos porcos que então se criavam; ainda mais o palheiro para guardar todos os mantimentos, como a palha, feno e lentilhas.
É a minha primeira casinha de que guardo muitas recordações. Apetece-me vê-la sempre assim, pois é assim a casa dos lavradores, tinha espaço para tudo, ao contrário das dos dias de hoje, que são só para viver as pessoas.
São mais confortáveis, mais limpas, mais divididas, mas ao mesmo tempo mais cansativas, porque é preciso estar sempre a limpar o pó dos móveis, enquanto na outra se varria com um vassouro de escobas e já estava!

Mas é assim a evolução da sociedade.
Maria Inácia Esteves

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

MORDOMIA DE SÃO PEDRO E DE NOSSO SENHOR


Sino pequeno no campanário da Igreja matriz
Lâmpada do Santíssimo, com o Altar-mor em pano de fundo


São Pedro é o padroeiro de São Pedro da Silva.
Os mordomos do altar-mor são dois casais. Um casal é de São Pedro e o outro é de Nosso Senhor. Os mordomos trabalham em conjunto.
O mordomo de São Pedro tem de tocar à missa, ajudar o padre na missa e dar as opas para as procissões, para levarem as lanternas e o palio, quando sai. A mordoma, junto com a mordoma de Nosso Senhor, tem de limpar a igreja, arranjar o altar e preparar as coisas para a missa: cálice, jarra com água e toalha.
A mordoma de Nosso Senhor tem de tocar às Trindades. Antigamente tocava-se às Trindades às seis e trinta da manhã, o povo dizia que era hora de levantar; tocavam à tarde por volta das cinco da tarde, era hora de cear e, ás nove, tocava-se às Almas diziam que era hora de deitar. Agora já só se toca uma vez, por volta das cinco, na hora de Inverno e às nove na hora de Verão.
A mordoma de Nosso Senhor tem de tratar da lâmpada. Antigamente essa lâmpada era com azeite e tinha uma flor que se apanha no monte. A mordoma tinha que ter o cuidado de a lâmpada não se apagar, tinha que ir a vê-la algumas vezes por dia. Caso alguém fosse e a visse apagada, tocavam os sinos para a mordoma ir lá. A lâmpada, por semana, gastava um litro de azeite, ao fim do ano gastavam-se 52 litros de azeite.
Esse azeite, ou se comprava ou quem tivesse devoção oferecia o que quisesse. A lâmpada não podia estar apagada pois diziam que Nosso Senhor estava às escuras.
Agora a lâmpada foi substituída por uma lâmpada eléctrica: é mais prática, nunca se está com a preocupação de se apagar.
O mordomo de Nosso Senhor nas procissões tem de levar a cruz.
Elisabete Esteves

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Um dia de sementeira



Pombal nos Manadeiros
Caniça numa terra do Cascalho

A sementeira é feita em Setembro e Outubro, mas para poder fazer a sementeira é preciso lavrar as terras com a charrua em Março, para que a terra coza e fique em repouso até Setembro.
Antes de semear a terra é preciso “vimá-la”*, para deixar a terra fofa ou desfeita.
Depois, calculamos a área da terra e calculamos o adubo e a semente que temos que lhe deitar.
Aqui, na nossa terra, calculamos a areados terrenos em hectares ou em jeiras de arada.
Cada hectare tem 3,3 jeiras de arada, mais ou menos.
A jeira de arada era calculada pelos antigos por um dia de trabalho a lavrar com as vacas, um dia normal. Por exemplo, 10 hectares são 33 jeiras de arada.
Cada jeira de arada leva 3 alqueires de trigo, mas se for de aveia é preciso deitar 4 alqueires, se não fica rala ou pouco espessa.
Cada hectare leva 10 alqueires de trigo, mais ou menos; cada alqueire de trigo pesa 12 kg.
Feitos os cálculos do adubo e da semente a aplicar, fazemos a aplicação (sementeira) no terreno; feita a aplicação, é lavrada novamente com os escarificadores (arados), para enterrar o cereal e o adubo.
Depois, em Fevereiro, deita-se o herbicida ou o pesticida para o trigo e a aveia; e deita-se também, no mês de Fevereiro o nitrato – o nitrato é uma matéria orgânica para produzir mais cereal.
Cada jeira de arada leva uma saca de adubo de 50 kg; um hectare leva 3 sacas e meia de adubo.
Para esta sementeira ser rentável, tem que render entre 15 e 17, como, por exemplo, um alqueire semeado tem que render (produzir) 15 a 17 alqueires.


*Vimar – lavrar com os escarificadores (arados) para deixar a terra mais fofa.




Celso Martins

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Dei-me bien an San Pedro


Tanque de la Resina
Canhiça i ciguonho al fondo de la Resina


(...)
Bin a bibir cun miu pai i cun mie mai para San Pedro de la Silba, que era la tierra de miu pai.
Ls purmeiros tiempos senti la falta d’als mius amigos. An Fuonte Aldé jugábamos al fito i a las piedras chamában-le «Cuncas» i an San Pedro «Fiteiras», alhi jugaba-se muito al speto, eiqui a la bola.
Mas dei-me bien. Lhougo ampecei a jogar a la bola: al campo era na Resina i parecie que jugábamos nun cabeço, quando jugábamos al para baixo i nun le acertábamos a la baliza, teniemos que ir por la bola a mais de 300 metros, a las bezes n’al Ambierno, cun todo cheno de auga.
Tamien ampecei a ir cun ls outros a las cereijas i a las ubas, muita beç nó por tenermos fame, mas por ua lhambisquice. Dei-me muito bien cun la jolda, que inda hoije son ls melhores amigos que tengo.

(...)


Luís Silva

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

O linho (I)


Peça de linho
Roca, fuso, manelo de linho e cartapaço


Na nossa aldeia, cultivou-se o linho até finais da década de 60, tendo então deixado de se cultivar, talvez porque o seu cultivo exigisse muita dureza e trabalho, bem simbolizado na expressão: “tormentos de linho”.
Há ainda habitantes que tem na memória esses duros trabalhos, o linho era cultivado essencialmente para consumo familiar envolvendo, no seu cultivo e manufacturação, praticamente todo o agregado familiar.
Os terrenos tinham que ser de regadio e o clima ameno, o nosso clima aqui é demasiado rigoroso, muito frio de inverno e quente e seco no verão, por isso cultivava-se o linho essencialmente na “Chaneira”, zona de hortas da aldeia, com um microclima ameno e perto da ribeira.
Aqui cultivavam-se dois tipos de linho: o galego e o mourisco.
Nas zonas húmidas cultivava-se o linho galego: semeava-se na primavera, no mês de Abril, para colher em Junho, precisava de estar menos tempo na terra, mas em terras mais férteis e húmidas, era um linho de melhor qualidade, mais fino. Também se produzia paralelamente a variedade Mourisca, semeada no Outono e colhida no Verão, embora este constituísse um produto de menor qualidade.
Para o cultivo do linho era necessário percorrer várias etapas, desde a sementeira, rega, arranca, ripar, demolhar, secar (soalheiro), malhar, espadelar, restelar, assedar, carpear, dobar, fiar, emborrar, ensarilhar, cozer, corar, urdir, canelar, tecer e corar, até chegar ao tecido fino e macio. (...)
Leonor Esteves Fidalgo

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

A Escola (2)


Escola de São Pedro -anos 60
Mapa: Fonte Ladrão - São Pedro

Tenho 32 anos e, no meu tempo, quando andava na escola na minha aldeia, éramos muitos alunos. Éramos de S. Pedro e Fonte Ladrão.
Fonte Ladrão é uma aldeia que fica, mais ou menos, a 3 km de S. Pedro. Os alunos que vinham de Fonte Ladrão tinham que vir a pé, pois não havia transporte. No Inverno chovia e fazia frio mas eles vinham na mesma. Demoravam cerca de meia hora, ou mais, a chegar à escola, era muito complicado para eles. Traziam o almoço e o lanche, por aqui ficavam todo o dia e só regressavam depois das aulas, no Inverno, muitas vezes, quase de noite.
Éramos muitos alunos e tínhamos duas professoras: uma professora dava à 1ª e à 2ª classe a outra dava à 3ª e à 4º classe. Enchíamos as duas salas e isso era bom! (...)


Elisabete Esteves

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

As minhas vacas




Estas são as minhas vacas no lameiro: são vinte e quatro vacas, um boi e o meu cão deitado lá no meio delas.
Em primeiro lugar, logo de manhã cedo, assim que me levanto, tenho que ir dar-lhes de comer, dar-lhes aveia, e deitar os vitelos a mamar.
Depois dali a pouco tenho que ir a deitá-las para a pastagem, para o lameiro, e depois tenho que ir com elas, porque se não, elas não param.
Depois também tenho que semear ervas para elas pastarem, por exemplo, "beia", “ferranha”, “azebem”, etc.
É preciso semear aveia – que será segada com a debulhadora, para deixar para seco -, para elas comeram durante todo o ano. Isso dá muito trabalho: é preciso lavrar, semear, segar, juntar, enfardar, fazer os rolos e ir metê-los no estábulo. Depois é preciso deixar alguma aveia para seco, para semente para o ano seguinte. A debulhadora já fica muito cara e, isto, o trabalho da agricultura é muito cansativo e não dá nada de lucro.
As pessoas, se forem a deitar contas aos gastos que têm, não dá para nada, não dá resultado nenhum. Depois, os adubos também estão muito caros e se uma pessoa não deitar adubo às terras não dão nada e uma pessoa vai deitar adubos e a comprar as sementes fica praticamente sem nada.




Fátima Vicente

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Janeiro


Retratos de San Pedro, sacados por Celso Martins, nun die de niebe
( L Tumbeirico i Las Eiras)


An Janeiro, chube-te al outeiro:
se bires berdegar, pon-te a chorar
se bires terriar, pon-te a cantar!



"Primeiro vem Janeirinho
todo branco, cor de arminho..."


Este bersico fui you qu'al dixe nun tiatro que fazimos, éran ls meses de l anho, i you era Janeiro, iba bestida de prieto i apuis punírun uns farrapicos branquicos a repersantar la niebe.
Éran las nuossas porsoras que mos ansinában, de nuite, a la lhuç de la candeia, ls papeles éran eilhas qu'als screbien i nós toca a meter todo na cabecica i la tabuada nun podie quedar para trás - i graças a Dius i a eilhas, you inda la sei hoije.
Apuis, naquel tiempo, nebaba muito, gelaba anriba, mas nós nun arredábamos pie, eilhi certicos, c'als papelicos na mano, bien seguricos, se nó benie l aire i alhá íban eilhes. I se algun se lhambraba de ir a la bolada, yá nun íbamos para casa sien mos regelarmos más.
Apuis alhá staba mie mai, cun la torrada ountada cun unto ou cun aquel molhico de las tabafeias, quando stában berdes, era nua sartiana que se calcien i aquilho aporbeitaba-se todo... i buono que era! Íbamos pa la cama i drumiamos-mos cumo uas piedras!

I agora? C'la barriga chena dal que ye buono, i adonde stá l suonho?! Naide l perdiu, por isso you nun l ancontro.


Albertina São Pedro